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sexta-feira, 12 de abril de 2019

Crónica de Maus Costumes 127


Filhos, perguntas e embaraços

                Os filhos são “pedaços de alma”, diz alguém. Verdade. Para o bem e para o mal. Hoje, fui surpreendida pela minha catraia que conversava alegre e despreocupadamente com o primo, enquanto via uns famigerados vídeos cómicos, quando inadvertidamente se vira para mim e me larga a bomba: “Ó mamã, o cão está doido! Está aqui a pinar com uma almofada!” Pousei o ferro rapidamente e perguntei-lhe o que tinha dito, para me certificar de que os meus ouvidos não me estavam a enganar… Ela, sem mácula e sem marotice, repetiu-me o enunciado que me causou alguns calafrios, confiante de que não estava enganada, pois é assim que os meninos dizem na escola, acompanhando o esclarecimento linguístico por meio de gestos, não fosse a mãe viver na sua ignorância!
            Escusado será dizer que gelei por segundos e, de seguida, lá tive que explicar o cio e a perpetuação da espécie!... Depois do susto, veio o riso, porque me lembro como se fosse hoje, de ter feito inusitadamente uma pergunta semelhante à minha mãe… Teria talvez idade próxima da minha filha… Perdoem-me a bruteza de linguagem…
- Ó mamã, para as mulheres terem bebés é preciso fazer como os rapazes dizem e “ir ao pito?”
A pergunta foi dirigida na esperança de que a resposta fosse negativa e que os moçoilos estivessem a delirar… Já agora!
Revejo a expressão da minha mãe, que com toda a calma me explicou que não era assim que se dizia, que era uma expressão feia e eu a pensar com os meus botões que pior do que a expressão era a coisa em si que não me agradava e achava tudo  verdadeiramente asqueroso… Talvez por isso ainda hoje essa brejeirice linguística em particular me incomode… Representa, para mim, a quebra da pureza absoluta, que de algum modo chegou sem que a tivesse pedido.
Hoje, revi o episódio na minha filha. Foi a consciencialização de que eles crescem demasiadamente rápido e que aprendem sem filtros a informação veiculada por colegas e que não conseguimos controlar, apenas aperfeiçoar, corrigir e minimizar.
Creio que o modo de sentir masculino poderá ser diferente. Talvez estas descobertas extemporâneas não lhes causem estranheza…
Culturalmente, também a vivência saudável da sexualidade foi durante muito tempo interdita à mulher. Infelizmente, ainda hoje acontece. Basta que nos lembremos da prática de mutilação genital feminina. É um atentado à vida e um atentado à liberdade da mulher. O homem, bicho estúpido, sente-se no direito de impedir uma vivência plena e satisfatória da sexualidade por parte da mulher, como se o prazer dela fosse ilícito! Parece-me bem o contrário. Seria pelo prazer que o Homem garantiria a propagação da espécie. Sem a mulher não há continuidade possível! Custa-me, portanto, verificar que o ato de amor que é gerar e carregar uma vida possa ser entendido como insalubre se o prazer da carne no feminino o acompanhar… Será caso para continuar a cantar que “quem faz um filho fá-lo por gosto!”
Nina M.

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