Filhos, perguntas e embaraços
Os filhos são “pedaços de alma”, diz alguém. Verdade. Para o bem e para o
mal. Hoje, fui surpreendida pela minha catraia que conversava alegre e
despreocupadamente com o primo, enquanto via uns famigerados vídeos cómicos, quando
inadvertidamente se vira para mim e me larga a bomba: “Ó mamã, o cão está
doido! Está aqui a pinar com uma almofada!” Pousei o ferro rapidamente e
perguntei-lhe o que tinha dito, para me certificar de que os meus ouvidos não
me estavam a enganar… Ela, sem mácula e sem marotice, repetiu-me o enunciado
que me causou alguns calafrios, confiante de que não estava enganada, pois é
assim que os meninos dizem na escola, acompanhando o esclarecimento linguístico
por meio de gestos, não fosse a mãe viver na sua ignorância!
Escusado será dizer que gelei por
segundos e, de seguida, lá tive que explicar o cio e a perpetuação da espécie!...
Depois do susto, veio o riso, porque me lembro como se fosse hoje, de ter feito
inusitadamente uma pergunta semelhante à minha mãe… Teria talvez idade próxima
da minha filha… Perdoem-me a bruteza de linguagem…
- Ó
mamã, para as mulheres terem bebés é preciso fazer como os rapazes dizem e “ir
ao pito?”
A
pergunta foi dirigida na esperança de que a resposta fosse negativa e que os
moçoilos estivessem a delirar… Já agora!
Revejo
a expressão da minha mãe, que com toda a calma me explicou que não era assim que
se dizia, que era uma expressão feia e eu a pensar com os meus botões que pior
do que a expressão era a coisa em si que não me agradava e achava tudo verdadeiramente asqueroso… Talvez por isso
ainda hoje essa brejeirice linguística em particular me incomode… Representa,
para mim, a quebra da pureza absoluta, que de algum modo chegou sem que a
tivesse pedido.
Hoje,
revi o episódio na minha filha. Foi a consciencialização de que eles crescem
demasiadamente rápido e que aprendem sem filtros a informação veiculada por
colegas e que não conseguimos controlar, apenas aperfeiçoar, corrigir e
minimizar.
Creio
que o modo de sentir masculino poderá ser diferente. Talvez estas descobertas
extemporâneas não lhes causem estranheza…
Culturalmente,
também a vivência saudável da sexualidade foi durante muito tempo interdita à
mulher. Infelizmente, ainda hoje acontece. Basta que nos lembremos da prática
de mutilação genital feminina. É um atentado à vida e um atentado à liberdade
da mulher. O homem, bicho estúpido, sente-se no direito de impedir uma vivência
plena e satisfatória da sexualidade por parte da mulher, como se o prazer dela
fosse ilícito! Parece-me bem o contrário. Seria pelo prazer que o Homem
garantiria a propagação da espécie. Sem a mulher não há continuidade possível!
Custa-me, portanto, verificar que o ato de amor que é gerar e carregar uma vida
possa ser entendido como insalubre se o prazer da carne no feminino o acompanhar…
Será caso para continuar a cantar que “quem faz um filho fá-lo por gosto!”
Nina
M.
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