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sábado, 19 de maio de 2018

Crónicas de Maus Costumes 83




            No final de um dia cheio, pleno de trabalho e de obrigações, nada mais precioso do que o descanso merecido em frente da folha em branco que me aguarda pacientemente e com tolerância perante a demora.
            A ânsia para que esse momento chegue é um sinal inefável do meu envelhecimento, mas que aceito, sem birras ou tergiversações desnecessárias.
            O envelhecimento do ser humano é uma realidade irrefutável, mas envelhecer bem é uma escolha. Eu tento fazê-lo, mantendo um corpo são numa mente sã, de acordo com a máxima latina “mens sana in corpore sano”, por isso, me são tão fundamentais as atividades de leitura e de escrita, conjugadas com as corridas. Estimulo o corpo e o pensamento. Outrora quisera preferencialmente distrair-me com noitadas entre amigos e barulho, todavia, atualmente, prefiro o sossego do lar e o aconchego do meu sofá ou do meu leito. Sinais dos tempos e de maturidade. Estas pequenas alterações no paradigma comportamental permitem-nos perceber a passagem do tempo.
            As características basilares permanecem: sempre me vi bem-disposta e divertida, tentando sorver da vida o melhor que esta tem para me oferecer, salvo algumas vezes em que ela me presenteou com alguns dissabores para, em primeiro lugar, poder apreciar os momentos de felicidade quando esta me bate à porta e, em segundo, para me fazer crescer, porque é na dor que o ser humano se constrói e evolui. Felizmente, os tropeços não me dotaram de cinismo que me impedisse de ver a beleza da vida, apesar da feiura que também a rodeia.
            Quando me dizem que não querem perder o contacto comigo, mesmo que não estejamos no mesmo local de trabalho, no próximo ano letivo, enchem-me de alegria, primeiro pela manifestação sincera e espontânea de carinho, depois por ser um dos elogios mais bonitos que me poderiam fazer. O sentimento é recíproco, naturalmente. Dou-me conta, nessa altura, de que não desejo novas mudanças, inimigas da idade adulta.
Se antes não me incomodava a mudança anual de escola e até apreciava, pois conhecia sempre gente nova, neste momento, o cérebro liga os radares e avisa-me de que não quero novas alterações e que se fosse feita a minha vontade, tudo permaneceria como está. Esta resistência revela também envelhecimento, porquanto este seja avesso às transformações.
Não me apetece mudar de sala de professores uma vez mais. Gosto da que tenho e temo que não encontre melhor. A capacidade de adaptação nunca me faltou, porém, agora, trata-se de uma recusa consciente do que não se sabe o que vem e a valorização extrema do que se tem!
No carrocel de emoções e na instabilidade de que por vezes sou feita, tenho a certeza de querer esta permanente monotonia…

Nina M.

           

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