Quiseram
saber se o amor existe para além dos filhos e dos pais. Existe, pois. Respondi
perentoriamente. Não podemos é ficar paralisados pelo medo. O temor é um estado
emocional desencadeado pelo organismo, quando este pressente uma situação de
insegurança e de desconforto. O medo protege-nos dos perigos e é essencial à
sobrevivência. Nessas circunstâncias, o ritmo cardíaco acelera, assim como a
respiração, acompanhados pela contração muscular.
Há
medos e ansiedades controláveis e outros tornam-se verdadeiro pavor, acabando
por se transformar numa fobia, que afeta o indivíduo psicologicamente,
fisicamente e socialmente. Há fobias para todos os gostos e algumas são bem
estranhas: medo de palhaços (coulrofobia), de gatos (elurofobia), de tomar
banho (ablutofobia), medo de não ter fobias (afobias), e mesmo medo de ser
tocado (afefobia). Perante tanta diversidade, interroguei-me se haveria alguma
patologia para designar o medo de amar e descobri a filofobia, seguida da
gamofobia, que é o medo do casamento e do compromisso.
A
filofobia é comum, especialmente em mulheres que viveram experiências
dececionantes e dolorosas no seu passado. Querendo a todo o custo evitar novas
dores já antigas, fecham-se para o amor romântico que só viria trazer
desequilíbrio à harmonia encontrada, afastando, desta forma, uma nova
oportunidade de amar e de ser amada. É de estranhar, porém, que os sintomas
apresentados pelos que estão em fase de enamoramento sejam semelhantes ao medo,
mesmo que as circunstâncias sejam diferentes: o aumento do ritmo cardíaco, da
respiração e até da contração muscular. Quem não sentiu já o coração bater fora
do peito e tão desgovernado, que se viu obrigado a segurá-lo para se certificar
que este permanece no seu lugar, quando se vê a pessoa que nos rouba o sossego nas
noites de insónia?
Nem
que seja só por este desassossego, o amor já vale a pena. Arranca-nos à
monotonia dos dias e torna-os coloridos, usando diferentes tonalidades de uma
mesma cor. Pena que este efeito se esfume com o tempo, mesmo que o amor
permaneça. Se pudesse tornaria obrigatório o pulsar frenético a cada vislumbre
do ser amado!
Ninguém deve viver preso a um passado com medo
de um futuro incerto, porque a vida nunca nos oferece certezas. A ansiedade
causada pelos “e se” de boicote ao amor (E se acabar? E se não estiver a ser
honesto? E se não é possível? E se somos muito diferentes?) matam-no à nascença
e impedem que floresça. Ah! Mas assim não se sofre, pensarão alguns. Seriamente?!
A vida é feita de dores e alegrias e temos que enfrentá-la para a podermos
viver inequivocamente, caso contrário não passamos de espectros de nós mesmos,
de espetadores da vida alheia e da nossa própria vida. Talvez seja eu que não
aprecie epicurismos nem estoicismos que apenas permitem sentir ao de leve o que
de morno há na vida, quando prefiro o quente que me causa estremecimento. Ninguém
sabe o dia de amanhã, mas está nas nossas mãos torná-lo melhor. A filofobia é
tratável e o amor é o único placebo eficaz contra as maleitas do mundo. Se
existe o amor? Claro! Tanto quanto o ódio e o cinismo. Será talvez a única
resposta a estes males e a esperança da humanidade!
O amor é o maior do que o medo,
deixemos que ele nos encha a alma e nos eleve ao sublime.
Nina M.
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