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sábado, 12 de maio de 2018

Crónica de Maus Costumes 82




            Quiseram saber se o amor existe para além dos filhos e dos pais. Existe, pois. Respondi perentoriamente. Não podemos é ficar paralisados pelo medo. O temor é um estado emocional desencadeado pelo organismo, quando este pressente uma situação de insegurança e de desconforto. O medo protege-nos dos perigos e é essencial à sobrevivência. Nessas circunstâncias, o ritmo cardíaco acelera, assim como a respiração, acompanhados pela contração muscular.

            Há medos e ansiedades controláveis e outros tornam-se verdadeiro pavor, acabando por se transformar numa fobia, que afeta o indivíduo psicologicamente, fisicamente e socialmente. Há fobias para todos os gostos e algumas são bem estranhas: medo de palhaços (coulrofobia), de gatos (elurofobia), de tomar banho (ablutofobia), medo de não ter fobias (afobias), e mesmo medo de ser tocado (afefobia). Perante tanta diversidade, interroguei-me se haveria alguma patologia para designar o medo de amar e descobri a filofobia, seguida da gamofobia, que é o medo do casamento e do compromisso.

            A filofobia é comum, especialmente em mulheres que viveram experiências dececionantes e dolorosas no seu passado. Querendo a todo o custo evitar novas dores já antigas, fecham-se para o amor romântico que só viria trazer desequilíbrio à harmonia encontrada, afastando, desta forma, uma nova oportunidade de amar e de ser amada. É de estranhar, porém, que os sintomas apresentados pelos que estão em fase de enamoramento sejam semelhantes ao medo, mesmo que as circunstâncias sejam diferentes: o aumento do ritmo cardíaco, da respiração e até da contração muscular. Quem não sentiu já o coração bater fora do peito e tão desgovernado, que se viu obrigado a segurá-lo para se certificar que este permanece no seu lugar, quando se vê a pessoa que nos rouba o sossego nas noites de insónia?

            Nem que seja só por este desassossego, o amor já vale a pena. Arranca-nos à monotonia dos dias e torna-os coloridos, usando diferentes tonalidades de uma mesma cor. Pena que este efeito se esfume com o tempo, mesmo que o amor permaneça. Se pudesse tornaria obrigatório o pulsar frenético a cada vislumbre do ser amado!

 Ninguém deve viver preso a um passado com medo de um futuro incerto, porque a vida nunca nos oferece certezas. A ansiedade causada pelos “e se” de boicote ao amor (E se acabar? E se não estiver a ser honesto? E se não é possível? E se somos muito diferentes?) matam-no à nascença e impedem que floresça. Ah! Mas assim não se sofre, pensarão alguns. Seriamente?! A vida é feita de dores e alegrias e temos que enfrentá-la para a podermos viver inequivocamente, caso contrário não passamos de espectros de nós mesmos, de espetadores da vida alheia e da nossa própria vida. Talvez seja eu que não aprecie epicurismos nem estoicismos que apenas permitem sentir ao de leve o que de morno há na vida, quando prefiro o quente que me causa estremecimento. Ninguém sabe o dia de amanhã, mas está nas nossas mãos torná-lo melhor. A filofobia é tratável e o amor é o único placebo eficaz contra as maleitas do mundo. Se existe o amor? Claro! Tanto quanto o ódio e o cinismo. Será talvez a única resposta a estes males e a esperança da humanidade!

O amor é o maior do que o medo, deixemos que ele nos encha a alma e nos eleve ao sublime.

Nina M.











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