Futuro e escolhas
Está prestes
a finalizar uma etapa para muitos alunos e a começar outra. Há alunos, ainda,
em exame, seja porque precisam de uma nova oportunidade para finalizarem o
secundário, seja porque entendem que precisam de melhorar a classificação a
determinada disciplina, para que possam alcançar os seus objetivos.
Sempre que
saem os resultados dos exames, fazem-se estatísticas e comparam-se resultados
relativamente ao ano anterior, mesmo que as circunstâncias e os intervenientes
no processo sejam diferentes, como se
isso não fizesse qualquer diferença para a análise. Esta tendência de olhar
para o conjunto de uma perspetiva só inquina todo o processo.
Constatou-se
que a média nacional obtida na disciplina de Português subiu e que a Matemática
desceu. Pior, nesta disciplina, 48% por cento dos alunos não alcançou a
positiva. É francamente negativo. Se preferirmos uma perspetiva mais otimista,
pode-se dizer que 52% dos alunos alcançaram resultados positivos. Ter quase
metade dos alunos com classificações inferiores a dez não é bom e é necessário
analisar detalhadamente as circunstâncias para se compreender o que se passa
com os jovens portugueses e a Matemática (o eterno problema).
Raramente,
situações complicadas admitem leituras e soluções simples, portanto, dispenso
sempre a tendência simplista de alguns levantarem o dedo em riste à falta de
estudo e de comprometimento dos alunos e ao badalado facilitismo, como únicas
explicações possíveis e viáveis e sem a admissão de outras causas. Creio serem
capazes de fazer melhor. Os educadores têm a obrigação de fazerem um bocadinho
melhor. Contra mim, tenho um adolescente com a suas dificuldades a Matemática e
pouca motivação para o seu estudo. No entanto, ainda assim, é a disciplina para
a qual se tenta preparar com maior zelo, dentro do seu perfil. Quando se fala
de facilitismo, no secundário, torço o nariz. Vejo bem a quantidade de exercícios
que os professores de Matemática impingem aos alunos, semanalmente, para que
estes treinem, porque só com treino conseguem, nalguns casos, chegar à positiva
e noutros alcançarem resultados muito bons. Egoisticamente e, talvez,
erradamente, os professores de Matemática tendem a queimar tudo à sua volta,
isto é, a quantidade de exercícios que lhes pedem para treino é tanta que se os
das outras disciplinas pedissem o mesmo, os alunos não comiam nem dormiam. Na
verdade, o ideal e o que os docentes desta disciplina aconselham aos alunos é a
estudar, diariamente, pelo menos duas horas, mas se forem quatro tanto melhor.
Ora… Pelo que observo, as meninas cumprem. A maioria dos rapazes não o faz. Não
têm essa disciplina nem essa vontade férrea. Se falta de estudo é isto. Sim, haverá falta
de estudo. Seria interessante haver uma análise comparativa entre os resultados
das meninas e dos rapazes, na Matemática.
Sem
desculpar a falta de empenho de muitos, se uma disciplina só exige que quase
todo o tempo de estudo lhe seja dedicado, algo não pode estar bem. Mal dos
alunos se tivessem de estudar duas horas diárias para todas as outras também.
Os miúdos teriam um horário pior do que a jornada de trabalho dos pais. Particularmente,
gostaria mesmo que existisse um estudo comparativo entre a Matemática exigida
aos alunos portugueses, no ensino secundário, com a que se exige em países como
a Finlândia, a Estónia (país que tem vindo a crescer em termos de resultados
escolares, tendo ultrapassado a Finlândia, sempre usada como exemplo), a
Dinamarca e, depois, os países asiáticos. Questiono-me se o programa da
Matemática não é demasiado ambicioso para a capacidade cognitiva de uma maioria
dos alunos, nesta faixa etária. Creio ser necessário esclarecer, com rigor,
este aspeto. Naturalmente, há jovens mais dotados do que outros de inteligência
matemática e é necessário encontrar um equilíbrio. Honestamente, querer pôr um
aluno entre os 16 e os 18 anos, com dificuldades na disciplina, a estudar 3 ou
4 horas por dia é o mesmo que exigir a um sedentário 3 ou 4 horas de exercício
diário. Interrogo-me se os adultos o conseguiriam fazer de forma consistente.
Os alunos
têm outras possibilidades, pensarão. É verdade, mas também têm o azar de ambicionarem,
muitas vezes, uma profissão que lhes exige terem Matemática até ao 12º ano e
terem de a usar como prova de ingresso, sem que, depois, precisem dela ao longo
dos cursos. Acontece com alguns cursos na área da saúde, por exemplo. É um disparate!
Haverá real necessidade de um programa que condiciona tanto os miúdos nas suas
opções? Num certo fórum, um colega (não sei se seria de Matemática) afirmava
que a maioria da população não precisa de saber o que é uma derivada ou uma
integral. Eu pensei imediatamente que a mim, tal conhecimento, não me faz
falta. Aliás, derivadas, só conheço o processo de formação de palavras (aposto
que a malta das matemáticas também não sabe, com rigor, do que falo) e a
integral, para mim, no que concerne farinhas, sempre ouvi dizer que é melhor
para a saúde! Talvez haja conteúdos dispensáveis que devem ser abordados
somente nas Universidades, nas áreas específicas em que, de facto, fazem falta.
Continuo a defender
uma mudança de paradigma na organização curricular, no secundário, à luz do que
acontece noutros países europeus. Há um tronco comum de disciplinas
obrigatórias, entre as quais, a língua materna, a Matemática, as Ciências, o Inglês,
a História, a Filosofia e Educação Física. Depois, os alunos compõem o resto do
seu currículo e tanto podem ter Literatura como Física ou dança ou geometria…
Enfim, urge uma maior flexibilização dos currículos, mas para o fazer é preciso
aferir com rigor quais os programas a implementar e, sobretudo, que sejam compatíveis
com o nível de cognição, dentro da faixa etária dos alunos. É um absurdo
continuar a ter alunos de humanidades que não gostam de ler, não gostam de línguas
estrangeiras nem de Filosofia ou de História e só aí estão para evitar a
Matemática. É uma pena que em quarenta anos nada tenha sido alterado
relativamente a estas questões. Por que razão um aluno de Ciências e
Tecnologias não pode ter Literatura, se for do seu agrado, ou um aluno de
humanidades, Biologia?
Certa
altura, expliquei a alunos do 12º ano que fui muito mais feliz a partir do 10º
ano, porque não tinha disciplinas de que não gostasse e me causassem calafrios,
mas eu sou inteiramente vocacionada para as humanidades. Aliás, é sempre a
condição humana que me apaixona. Portanto, a escolha da área foi óbvia. Porém,
não tem de ser assim tão estanque. Não há razões para se obrigar os alunos a
uma escolha definitiva tão cedo, sabendo-se que estas novas gerações são muito
mais imaturas.
Aos alunos
que, ainda, prestarão provas, que a sorte vos sorria! Não se esqueçam: a sorte
também dá algum trabalho.
Nina M.
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