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sábado, 8 de fevereiro de 2025

Crónica de Maus Costumes 407

 

Crónica de um mundo ensandecido

               O Homem parece não querer curar a insanidade do mundo. À medida que nos adentramos na maturidade, ficamos com a sensação de que a realidade piora a olhos vistos, mas para usar uma expressão da moda, talvez não passe de um erro de perceção.

            Guerras sempre existiram. O século XX foi sangrento e o primeiro quarto deste século não está a ser melhor… No entanto, o cenário não é propriamente novo: a sede de poder, a luta pelo controlo e pela hegemonia económica continua a mesma e alguns dos atores também.  Os donos disto tudo não prestam e nunca prestaram e continuam a mexer as suas peças no tabuleiro de xadrez, para fazer o seu xeque-mate.

            A luta do Homem começa a ser a de dotar a sua vida de sentido e de propósito num mundo esquizofrénico. O problema é que a preservação da sanidade parece exigir o afastamento da mundanidade e a vivência de um mundo interior muito próprio. No entanto, não se trava a batalha sem perdas, pois não somos sozinhos, não subsistimos sozinhos, somos seres gregários e a nossa preservação depende da preservação da comunidade. Começa a ser verdadeiramente difícil olhar para os corredores do poder neste momento. O conflito israelo-palestiniano que parece não ter fim; a guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia; a luta pela hegemonia económica entre a China e os Estados Unidos da América; a vitória de Trump que deveria envergonhar todos os estadunidenses, uma vez que o país gosta de tecer loas à sua democracia. Eu continuo sem entender como um povo é capaz de eleger uma triste figura que admitiu ter fugido aos impostos, prejudicando todos os seus concidadãos e, sobretudo, ter incentivado um ataque ao Capitólio em que, para além de dano patrimonial, houve morte de pessoas. Não entendo como um país democrático, que revela imenso orgulho na sua democracia e na sua liberdade, possa permitir que um indivíduo, promotor de uma rebelião e assalto à casa da democracia, possa voltar a candidatar-se. Espanta-me que o sistema judicial o permita e espanta-me que um partido, para ganhar eleições, o escolha e o apoie. Não me espanta que alguns, muitos líderes deste mundo se predisponham a baixar-lhe as calças e a mostrar-lhe o rabinho. Esse loiro imbecil já queria anexar o Canadá e a Gronelândia e transformar Gaza numa espécie de Riviera americana com o apoio de outro troglodita, o Netanyahu! E o que pretendem fazer aos palestinianos? Acaso o genocídio levado a cabo não chega? A destruição massiva não é, por si só, castigo suficiente? A expansão sucessiva dos colonatos que mais não é do apropriação de terra palestiniana continuará até à expulsão total? O líder de um povo que repete o que outros fizeram com ele, no século XXI, não é digno de liderar ninguém.

            Estas ideias que nos parecem absurdas e que não são para serem levadas a sério, vindas de quem vem, devem deixar-nos alerta, porque um louco com poder é capaz de tudo e não faltam exemplos históricos a comprová-lo.

A diferença entre Trump, Putin, Netanyahu e Xi Jinping é nula! O valor maior é o dinheiro e o poder. Valores como humanismo, justiça, empatia, proteção dos mais frágeis passam-lhes ao lado. Não olham a meios para atingirem os seus fins. Se alguns livros terão lido, um deles terá sido, por certo, O Príncipe, de Maquiavel. Em caso de conluio entre Trump e Netanyahu para ocupação de alguns territórios de Gaza, se tal vier a acontecer, o mundo estará perante uma situação maior de hipocrisia inqualificável e nojenta. Espero, sinceramente, que o resto do mundo e, principalmente, a Europa não fique de braços cruzados, impávida e serena. Para além de que tal comportamento, seria uma espécie de carta branca para a China poder invadir Taiwan e um respaldo moral para a Rússia!

Eu sei que os estadunidenses só se preocupam com a economia, uma sociedade onde vigora um capitalismo selvagem, onde a ideia de sucesso se faz pela ostentação dos bens materiais que se possui, onde reina a tese da meritocracia sem atender à equidade, fazendo com que a população acredite que com muito trabalho todos podem melhorar a sua vida, mas infelizmente não é assim. Há outros fatores e circunstâncias decisivos, desde logo a sorte ou o azar ditado pelo meio onde se nasce. Trump nasceu com o rabo virado para a lua. Já era muito rico, antes de se tornar, muito, muito rico. É um privilegiado arrogante, que se afasta da elite intelectual, mais pobre do que ele, é certo, mas ao pé da qual não vale um chavo, conseguindo a simpatia de uma classe média e trabalhadora, por vezes ressentida com as dificuldades da vida e com as elites que deveriam garantir maior equidade, mas que falham no propósito. As elites têm, por isso mesmo, um trabalho reflexivo a fazer. Trump chega ao poder através da divisão e da polarização da sociedade, com a promessa de uma economia forte nem que isso implique falta de ética nas relações com os outros países. Eu desejo que o partido democrata se possa reencontrar rapidamente para fazer uma oposição séria e contundente a este lunático que aterrou, mais uma vez, na cadeira do poder.

Quanto aos europeus, a verdade é que não podem continuar a colocar o seu destino em mãos alheias e só uma Europa unida e fraterna pode ter condições para se bater de igual para igual com outras potências. A Europa de valores vincados, na única em que me reconheço: democrática, livre, culta, tolerante, respeitadora, mas que se faz respeitar, opositora a todo e qualquer regime autocrático, mais justa e mais equitativa na distribuição da riqueza que produz e promotora de paz.

Espero que soprem ventos favoráveis para os que sofrem os terrores deste tempo e quanto a mim, por vezes, apetece-me a imperturbabilidade dos jogadores de xadrez de Ricardo Reis, a ver se o consigo…

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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