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sábado, 15 de fevereiro de 2025

Crónica de Maus Costumes 408

 

Noite de pesar para os portistas

               A crónica deste fim de semana seria sobre outra coisa, mas fui tristemente surpreendida pela notícia que sabia que haveria de chegar um dia…

A nação portista vê, hoje, sábado, dia 15 de fevereiro, aquele que foi o seu presidente, durante 42 anos, partir. É um dia triste. Seguir-se-ão as exéquias e a despedida final.

               Jorge Nuno Pinto da Costa, o Presidente dos presidentes, marcou a Instituição Futebol Clube do Porto, marcou sucessivas gerações de portistas, marcou uma cidade, marcou o país e a história do futebol português no panorama internacional (o que muitos não lhe perdoam).

               Indomável como a cidade que o viu nascer, o legado que nos deixa será, talvez, irrepetível, mas como o próprio presidente gostava de dizer: “ninguém diga impossível”. Pinto da Costa é um homem de paixões e foi a paixão pelo Futebol Clube do Porto, que começou a acompanhar no estádio, por influência de um tio, às escondidas da mãe, que norteou a sua vida para o bem e para o mal.

               Homem polémico, irónico, combativo ao centralismo numa época em que era imperioso fazê-lo (e em muitas coisas continua a sê-lo, nomeadamente, na cultura), nunca deixou nada por dizer. Acertou muitas vezes. Errou algumas. No legado que deixa aos portistas, o saldo é positivo, apesar da situação atual em que o clube se encontra. Se há princípio que Pinto da Costa deixa ao clube é o de nunca virar a cara à luta. Nunca desistir, porque as árvores morrem de pé. Acredito ter sido esse um dos motivos pelos quais decidiu recandidatar-se. Um erro de cálculo que lamento profundamente. Gostava que tivesse saído de outra forma, mas Pinto da Costa decidiu sair como viveu. Emocionei-me, na noite das eleições, apesar de entender que os resultados eram aqueles que melhor serviam os interesses do Futebol Clube do Porto, naquela altura, mas creio que todos os sócios e portistas sentiram alguma fratura na alma. Não era a despedida que queriam, mas foi a que o presidente escolheu. Talvez, por isso mesmo, sob o peso da derrota por número expressivo, o seu nome foi entoado no estádio, foi entoado enquanto se dirigia para o carro, visivelmente emocionado. O momento mais triste para todos. A partir de então, ainda agora, o universo azul não curou as feridas. Sirva a partida do maior símbolo do clube para a unificação da nação portista, para devolver as alegrias aos adeptos e para honrar o legado que nos deixa.

               O futebol é o só futebol, nada mais do que isso, mas apesar da sua insignificância nas coisas realmente sérias da vida, é capaz de proporcionar as maiores alegrias e as maiores tristezas. Com Pinto da Costa, os portistas provaram ambas, mas foram maiores as alegrias do que as tristezas. Para muitos, quase o único presidente que conheceram. Tomou conta do clube em 1982 e em 1985 (eu tinha dez anos) ganhou o seu primeiro título de campeão nacional, equipa liderada por José Maria Pedroto. Dois anos mais tarde, o Futebol Clube do Porto venceria a Taça dos Campeões Europeus, a Taça Intercontinental e a Supertaça Europeia. Vi as duas finais: o calcanhar mágico de Madjer e o golo da arma secreta: Juary, na primeira, e os golos de Fernando Gomes (o bibota) e, novamente, Madjer, na segunda. Com Pinto da Costa, o Futebol Clube do Porto viria a repetir a façanha, em 2004, sob o comando de Mourinho e, já em 2003, também Mourinho tinha vencido a Taça UEFA. Ganharia, ainda a Taça Intercontinental, sob a liderança técnica de Victor Fernández. O atual presidente, André villas-Boas, viria a vencer, enquanto treinador, a Liga Europa, em 2011. As conquistas internacionais do Futebol Clube do Porto, o clube português mais titulado internacionalmente, que tanto orgulha os portistas, foi conquistado durante a liderança do presidente que, hoje, decidiu descansar. Houve títulos nacionais, muitos! Muita alegria e muita euforia.

Sou grata a Pinto da Costa por todas as alegrias, especialmente, por ter visto o FCP agigantar-se nas competições internacionais e a vencê-las. Pinto da Costa, goste-se ou não, nasceu com uma capacidade de liderança invulgar e uma forma única de olhar para as questões. Em Tóquio, debaixo de neve, com o campo em condições dificílimas, Pinto da Costa quis jogar e as suas palavras para o árbitro foram decisivas: “o senhor tem a oportunidade de deixar o seu nome ligado a uma Taça Intercontinental. Caso se revele impossível, pode sempre cancelar o jogo por falta de condições ou pode decidir adiar sem sequer tentar.” O resto da história escreveram-na os jogadores, sob o comando técnico de Ivic.

Estas alegrias são inesquecíveis para um adepto e, mesmo hoje, o coração sorri quando as pensa. Por tudo isto, Pinto da Costa ganhou o carinho e o respeito dos adeptos. Por tudo isto é a figura maior do clube. Por tudo isto sempre será recordado com respeito e saudade. Por tudo isto lamentamos a sua partida e a sua despedida. Por tudo isto, o Dragão fica mais pobre sem a sua presença assídua.  Por tudo isto será inesquecível, ainda que também tenha errado, sobretudo, no último ano, mas como não esquecer e perdoar os deslizes de quem já deu tanto, de quem deu tudo de si?!

Guardo a imagem de um homem com a lucidez desarmante de olhar a morte nos olhos e de a enfrentar sem medo nem lamento, de olhar para trás e de ver uma vida cheia, com acertos e erros, como a de qualquer ser humano, mas que afirma, sem titubear, a sua satisfação de dever cumprido, com a tranquilidade de quem está preparado para partir quando a hora chegar.

Pinto da Costa era crente, portanto, Deus lhe dê o eterno descanso. Por cá, não haverá um portista que não o lembre, não haverá um portista que deixe esquecer o seu legado. Ao clube, associados e adeptos compete honrar o legado e a união que faz a força.

Muito obrigada, senhor Presidente! Até sempre.

 

P.S. Quem estiver a pensar em prestar a última homenagem, não se esqueça dos cachecóis e camisolas azuis brancas. Pedido do presidente.

 

Nina M.

              

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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