Noite de pesar para os portistas
A
crónica deste fim de semana seria sobre outra coisa, mas fui tristemente
surpreendida pela notícia que sabia que haveria de chegar um dia…
A nação
portista vê, hoje, sábado, dia 15 de fevereiro, aquele que foi o seu presidente,
durante 42 anos, partir. É um dia triste. Seguir-se-ão as exéquias e a
despedida final.
Jorge
Nuno Pinto da Costa, o Presidente dos presidentes, marcou a Instituição Futebol
Clube do Porto, marcou sucessivas gerações de portistas, marcou uma cidade,
marcou o país e a história do futebol português no panorama internacional (o
que muitos não lhe perdoam).
Indomável
como a cidade que o viu nascer, o legado que nos deixa será, talvez,
irrepetível, mas como o próprio presidente gostava de dizer: “ninguém diga
impossível”. Pinto da Costa é um homem de paixões e foi a paixão pelo Futebol
Clube do Porto, que começou a acompanhar no estádio, por influência de um tio, às
escondidas da mãe, que norteou a sua vida para o bem e para o mal.
Homem
polémico, irónico, combativo ao centralismo numa época em que era imperioso
fazê-lo (e em muitas coisas continua a sê-lo, nomeadamente, na cultura), nunca
deixou nada por dizer. Acertou muitas vezes. Errou algumas. No legado que deixa
aos portistas, o saldo é positivo, apesar da situação atual em que o clube se
encontra. Se há princípio que Pinto da Costa deixa ao clube é o de nunca virar
a cara à luta. Nunca desistir, porque as árvores morrem de pé. Acredito ter
sido esse um dos motivos pelos quais decidiu recandidatar-se. Um erro de cálculo
que lamento profundamente. Gostava que tivesse saído de outra forma, mas Pinto
da Costa decidiu sair como viveu. Emocionei-me, na noite das eleições, apesar
de entender que os resultados eram aqueles que melhor serviam os interesses do
Futebol Clube do Porto, naquela altura, mas creio que todos os sócios e
portistas sentiram alguma fratura na alma. Não era a despedida que queriam, mas
foi a que o presidente escolheu. Talvez, por isso mesmo, sob o peso da derrota
por número expressivo, o seu nome foi entoado no estádio, foi entoado enquanto se
dirigia para o carro, visivelmente emocionado. O momento mais triste para
todos. A partir de então, ainda agora, o universo azul não curou as feridas.
Sirva a partida do maior símbolo do clube para a unificação da nação portista,
para devolver as alegrias aos adeptos e para honrar o legado que nos deixa.
O
futebol é o só futebol, nada mais do que isso, mas apesar da sua
insignificância nas coisas realmente sérias da vida, é capaz de proporcionar as
maiores alegrias e as maiores tristezas. Com Pinto da Costa, os portistas
provaram ambas, mas foram maiores as alegrias do que as tristezas. Para muitos,
quase o único presidente que conheceram. Tomou conta do clube em 1982 e em 1985
(eu tinha dez anos) ganhou o seu primeiro título de campeão nacional, equipa
liderada por José Maria Pedroto. Dois anos mais tarde, o Futebol Clube do Porto
venceria a Taça dos Campeões Europeus, a Taça Intercontinental e a Supertaça
Europeia. Vi as duas finais: o calcanhar mágico de Madjer e o golo da arma
secreta: Juary, na primeira, e os golos de Fernando Gomes (o bibota) e, novamente,
Madjer, na segunda. Com Pinto da Costa, o Futebol Clube do Porto viria a
repetir a façanha, em 2004, sob o comando de Mourinho e, já em 2003, também
Mourinho tinha vencido a Taça UEFA. Ganharia, ainda a Taça Intercontinental,
sob a liderança técnica de Victor Fernández. O atual presidente, André
villas-Boas, viria a vencer, enquanto treinador, a Liga Europa, em 2011. As
conquistas internacionais do Futebol Clube do Porto, o clube português mais
titulado internacionalmente, que tanto orgulha os portistas, foi conquistado
durante a liderança do presidente que, hoje, decidiu descansar. Houve títulos
nacionais, muitos! Muita alegria e muita euforia.
Sou grata a
Pinto da Costa por todas as alegrias, especialmente, por ter visto o FCP
agigantar-se nas competições internacionais e a vencê-las. Pinto da Costa,
goste-se ou não, nasceu com uma capacidade de liderança invulgar e uma forma
única de olhar para as questões. Em Tóquio, debaixo de neve, com o campo em
condições dificílimas, Pinto da Costa quis jogar e as suas palavras para o
árbitro foram decisivas: “o senhor tem a oportunidade de deixar o seu nome
ligado a uma Taça Intercontinental. Caso se revele impossível, pode sempre
cancelar o jogo por falta de condições ou pode decidir adiar sem sequer tentar.”
O resto da história escreveram-na os jogadores, sob o comando técnico de Ivic.
Estas alegrias são inesquecíveis para um adepto e,
mesmo hoje, o coração sorri quando as pensa. Por tudo isto, Pinto da Costa
ganhou o carinho e o respeito dos adeptos. Por tudo isto é a figura maior do
clube. Por tudo isto sempre será recordado com respeito e saudade. Por tudo
isto lamentamos a sua partida e a sua despedida. Por tudo isto, o Dragão fica
mais pobre sem a sua presença assídua.
Por tudo isto será inesquecível, ainda que também tenha errado,
sobretudo, no último ano, mas como não esquecer e perdoar os deslizes de quem já
deu tanto, de quem deu tudo de si?!
Guardo a imagem de um homem com a lucidez desarmante
de olhar a morte nos olhos e de a enfrentar sem medo nem lamento, de olhar para
trás e de ver uma vida cheia, com acertos e erros, como a de qualquer ser
humano, mas que afirma, sem titubear, a sua satisfação de dever cumprido, com a
tranquilidade de quem está preparado para partir quando a hora chegar.
Pinto da Costa era crente, portanto, Deus lhe dê o
eterno descanso. Por cá, não haverá um portista que não o lembre, não haverá um
portista que deixe esquecer o seu legado. Ao clube, associados e adeptos compete
honrar o legado e a união que faz a força.
Muito obrigada, senhor Presidente! Até sempre.
P.S. Quem estiver a pensar em prestar a última
homenagem, não se esqueça dos cachecóis e camisolas azuis brancas. Pedido do
presidente.
Nina M.
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