Diz que parece uma crónica futebolística
Quem me conhece razoavelmente sabe o
meu gosto futebolístico, que nunca escondi nem escondo. Parafraseando a minha
tão querida amiga “Dra. Isabel”, como carinhosamente a tratava desde os tempos
de caloira, “herdei o bom gosto do senhor meu pai” e tal como ela, que ia lembrando
o pai que já tinha partido para lugar melhor, dos triunfos dos dragões, chegou
o momento, querida Isabel, de te dizer que atravessamos o deserto, mas que
estou esperançosa no futuro. Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas estou
certa de que o nosso FCP continuará a dar-nos alegrias, apesar do momento
difícil que vivemos. Se há coisa que caracteriza o ADN do clube é nunca desistir
das suas ambições.
Parece que às vezes o meu excelente
gosto pelo clube, aliás, bem herdado de família: pai, mãe e irmãos e, agora,
filhos e sobrinhos para lhe dar continuidade, vai desgostando algumas pessoas,
mas isso… Paciência… Não sou responsável por expetativas alheias.
Esta semana aconteceu algo que me
fez rir, mas também refletir a propósito do ocorrido. Comentei a publicação de
um colega, a propósito da vitória da seleção portuguesa de andebol contra a
Alemanha, que mostrava o último golo marcado por Portugal e que garantiu a
vitória e o apuramento. A par das imagens, havia uma pergunta: “Como é que se
descreve um sentimento destes?” Oh! Nada mais fácil para mim! A primeira coisa
que me ocorreu e escrevi no comentário, dirigido ao meu colega, que,
casualmente, tem o mesmo bom gosto futebolístico, duplamente azulado, pois
também o clube da sua terra escolheu esta bela cor. Sem hesitar, respondi que descrevia
muito facilmente: Kelvin, minuto 92!
Obviamente, não sendo ingénua, sabia
dos riscos, mas às vezes, talvez seja um bocadinho Kamikaze… Não faltou muito
tempo para alguém considerar inapropriado o exemplo, pois claro, e replico as
palavras do autor: “comparar Portugal ao Porto, não só é despropositado como é
muito baixo. Mais respeito pela Seleção!” Lá tive de explicar ao senhor que eu
não comparava o FCP à Seleção, mas o sentimento perante uma vitória difícil e
importante ao cair do pano! E que poderia ainda citar como exemplo a Liga dos
Campeões, conquistada em 87, depois de uma reviravolta no jogo, com o magnífico
calcanhar de Madjer, que imortalizou para sempre esse jogo. Portanto, a alegria
sentida pelos jogadores da seleção portuguesa de andebol deve ter sido
semelhante àquela que eu senti nos momentos referidos. Era disso que falava a
publicação, como descrever esse sentimento. Obviamente, não adiantou de nada,
continuei a ser acusada de clubite para justificar o meu sentimento em relação
à Seleção. O senhor não percebeu nada (e não fui eu que não me fiz entender).
Nem sequer estava em causa o meu sentimento pela seleção e a sua justificação, mas
apenas a capacidade de compreender muito bem os sentimentos daquela equipa,
naquele momento, por comparação a vivências e alegrias semelhantes ou até
maiores, porque o minuto 92 do Kelvin valeu um campeonato, um troféu, ao
contrário do jogo da Seleção. Ri-me bastante com o sucedido. Nunca me irrito
neste casos, porque bem analisado, a clubite e a mágoa eram do senhor. Ele é
que interpretou como uma comparação entre o clube e a seleção e, depois, veio a
mágoa, porque o meu clube, referenciado através de exemplos, feriu de morte, ao
ponto de deixar de joelhos o timoneiro do clube do seu coração. Na verdade,
acusou-me daquilo de que ele próprio padece e mostrou a sua incapacidade para
compreender o que eu, cristalinamente, escrevi: a alegria dos jogadores
portugueses terá sido igual à que eu mesma senti no final daquele jogo,
concretamente, no minuto 92. Foi isto o que eu disse. Foi isto que o senhor não
percebeu ou não quis perceber.
No entanto, a partir daqui, pude elaborar
outros raciocínios… As pessoas tendem a querer moralizar as emoções e os
sentimentos alheios. Note-se que ao acusar-me de baixeza por comparar o Porto à
Seleção (interpretação errada da sua parte) e de me sugerir mais respeito pela
mesma, é o mesmo que me dizer que, obrigatoriamente, eu tenho de valorizar mais
a seleção do que o FCP! Com que direito e por que razão me recrimina por não
ter a sua visão de mundo? Isto é o mesmo que dizer que sou obrigada a gostar
mais dos escritos de Saramago do que dos de Victor Hugo ou Dostoiévski, porque
o primeiro é português e os outros, não! Homessa! Não haveria de faltar mais nada!
Vamos ver se a gente se entende… Podemos educar e exercitar a
consciência e a racionalidade, podemos educar comportamentos, mas os
sentimentos e emoções, esses têm vida própria e são rebeldes. Podemos falar em
maus sentimentos: ciúme, inveja, ódio, frustração, entre outros… Sabemos que
são prejudiciais e, nesse caso, podemos fazer um trabalho de racionalização e
de consciência para que esses sentimentos não conduzam a efeitos destrutivos.
No entanto, apesar do trabalho que possamos fazer sobre eles, eles não desaparecem
nem deixam de existir por decreto. Não adianta tentar moralizar o sentimento da
inveja. Ele não se vai embora. Devemos é saber lidar com ele. Reconhecer que é
um mau sentimento, que ele reflete o fracasso do próprio e fazer da fraqueza
força. Poderemos dominar os nossos comportamentos se o caso se justificar, mas
nunca os sentimentos e se os mascararmos, ninguém tenha ilusões sobre isso,
estamos a agir de má-fé para connosco mesmos e a enganarmo-nos a nós mesmos.
Assim, o indivíduo que se achou no
direito de me fazer um reparo moral não o fez por paixão à seleção de andebol,
mas antes por paixão ao seu clube (que eu compreendo e, por isso, relevo), mas
não lhe concedo o direito de me dizer como eu tenho ou devo sentir, ainda para
mais numa questão que não traz qualquer prejuízo a quem quer que seja!
Para ser mais cristalina, para mim,
no desporto, a minha paixão é tão somente o FCP! Gosto muito do Paços de
Ferreira e também da Seleção e desejo sempre que ganhem, mas não me façam
escolher, porque ao contrário de muitos, não tenho quaisquer pruridos morais em
relação a isso! Vibro muito mais com as grandes conquistas do FCP do que com as
da Seleção! E nem se deem ao trabalho de me dizerem o que quer que seja. É uma
questão de sentimento e eles não são moralizáveis nem negociáveis. O coração
fica com quem lhe acende a alma. Desportivamente, quem mais me acende a alma é
o FCP. Sempre foi. Sempre será.
Se assim não
fosse, a esse mesmo senhor que me quis puxar as orelhas, poderia dizer-lhe que
alguém que é natural de outro distrito do Norte do país, é imoral ser
benfiquista, que deveria ter escolhido o clube da sua região. Certamente, não
estará de acordo e talvez, se tiver a capacidade de ser verdadeiro consigo
mesmo, talvez conclua que gosta mais do seu clube do que da Seleção. Também
poderá não ser assim e eu aceito com naturalidade. Não aceito é que me queira
impor regras ao meu sentir ou tecer juízos fundamentados numa moral bacoca! Não
haveria de faltar mais nada!
Concluindo: compreendo muitíssimo
bem a alegria dos jogadores de andebol. Felizmente, já a senti várias vezes
enquanto adepta, das quais se destacam o minuto 92, final de 1987, final de
2003 e de 2004. De intensidade menor, mas ainda assim bastante alegria, todas
as subidas de divisão do Paços e o euro de 2016.
Gosto de ser correta, mas gosto
pouco do politicamente correto.
Nina M.
P.S. Isto
não é sobre futebol.
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