Viagens & peripécias
Passear com os pais e os irmãos é sempre bom. Cumpre-se o presente de aniversário da mãe, que foi precisamente esta saída. Começa a ser uma espécie de ritual, mas desta vez, apesar da dificuldade em conseguir uma data à conveniência de todos, conseguimos reunir.
Gostamos todos de passear e a responsabilidade foi do pai que, com o seu Ford escort 1300, branco, conseguia a proeza de meter lá dentro sete ou oito pessoas. Quatro ou cinco adultos e o resto canalha (nesse tempo éramos nós, os três irmãos, os miúdos). Dentro do bólide, cuja matrícula ainda sei de cor (DM-25-99), mas se me perguntam pela matrícula do meu carro, sou incapaz de a dizer, assim de sopetão, percorremos algumas das estradas de Portugal. A memória torna-se muito seletiva com a idade e gosto de recordar a professora Assunção Monteiro, que era capaz de reproduzir datas e trechos literários de cor, mas afirmava, ufanamente, não saber o número de telefone de sua casa ou a matrícula da viatura, por se recusar, dizia ela, a ocupar a memória com coisas insignificantes. Tornei-me igual. Aprendi bem a lição.
Certo é que às vinte e duas horas ainda fazemos o trajeto para casa, por conta de um furo que obrigou a andar com um pneu para desenrascar, mas que não permite grandes velocidades.
Os miúdos, os primos, os famosos cinco, estão felizes como nunca e já andavam a planear o carro dos miúdos há semanas! Todos juntos não lamentam a estrada agreste pela serranias nem lamentam cansaços. Estranhamente, acordaram cheios de pressa e com vontade de partir. Dizia o meu aborrescente, satisfeito da vida, que tínhamos de fazer mais passeios assim... O que ele quer dizer é que pouco lhes importa se vão para o Piódão ou outro lado qualquer, mas o que o anima é estarem todos juntos.
Ocorre-me, imediatamente, os passeios que fazíamos, também nós, com os primos e, tal como eles, todos juntos num só carro. Os momentos prazerosos da vida são feitos de vivências significativas e ver a alegria estampada no rosto dos famosos cinco é uma satisfação enorme para os pais. Quero que eles, tal como nós, quando crescerem, tenham estes momentos para recordar. Histórias das quais se possam lembrar e rir-se juntos. Há frases e tiradas que nos acompanham vida fora. Um dos meus primos, que anualmente enchia o famoso ford escort a caminho da praia, invariavelmente, em Guilhabreu, se saía: ó ti' rene, olha as betoneiras verdes! De manhã e à tarde, diariamente, a frase era repetida, ao longo da segunda quinzena de julho...
Serão sobretudo estas memórias que lhes ficarão e sei que a viagem será falada durante muito tempo.
Tens razão, Rodrigo, temos de fazer isto mais vezes, filho...
Nina M.
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