Como fina flor
Em solo fértil
Assim repousa o meu coração
Deitado sobre as Tuas mãos
À espera de reanimação
Essa esperança tão ânsia
Desígnio dos crentes
A crónica de
hoje chega com atraso, mas vem sempre a tempo, porque neste país, normalmente,
não se acautela para evitar que o pior aconteça, ou seja, não se aposta na
prevenção, há é sempre uma reação ao problema e a escola pública é sempre um
exemplo fácil…
Há vários anos, os sindicatos alertaram para o problema que as escolas vivenciam neste momento: a falta de professores em determinadas zonas do país, mas que se alastrará a outras, fruto do envelhecimento da classe docente. Ninguém ouviu e pior, os professores foram diabolizados, enxovalhados, quis ganhar-se a opinião pública, que continua ganha, mas a que preço e com que custo para o país e os mais jovens!
Entre 1990 e
2005, Portugal fez um esforço sério por formar profissionais competentes e
profissionalizar os que já estavam no sistema, mas que não eram professores. Surgiram
os cursos via ensino (o caso do meu), que obrigava a quatro anos de estudo nos
bancos da Universidade e um ano inteiro na escola, orientados por professores
experientes, mas com duas turmas a nosso cargo. No total, ao longo do ano
letivo, tive a modesta quantia de quarenta aulas assistidas, vinte a Português
e outras tantas em Francês, quer na minha turma quer nas turmas dos
orientadores, com os devidos seminários semanais e feedback do trabalho
realizado. Tínhamos de entregar, antecipadamente, ao orientador, o plano e a descrição de
aula. Nos seminários, fazia-se a auto e heteroavaliação
das aulas assistidas e competia ao orientador elaborar o relatório avaliativo
pormenorizado do avaliando. Os ainda universitários eram postos no terreno, com
acompanhamento, exercendo também a função de secretários de uma direção de
turma para aprenderem o pragmatismo do ofício e tinham, obviamente, assento nas
reuniões de grupo disciplinar (na altura não havia departamentos). Com o tempo,
para evitar pagar o salário de quinhentos euros aos estagiários, as regras do
jogo foram mudadas. Os alunos em final de curso deixaram de estar na escola a
tempo inteiro e o estagiário passou a ter de cumprir umas assistências nas turmas dos orientadores e, também, a ter de lecionar algumas aulas. Deixou de estar o tempo integral na escola, no terreno, a
compreender e a apreender o seu funcionamento por dentro. Os últimos estágios
remunerados, com os professores-estagiários a tempo integral, datam do ano 2005.
No entanto, nos tempos seguintes, os estagiários que ainda apareciam eram de
cursos via ensino, havendo a garantia de alguma qualidade. Neste momento, basta
que alguém com curso superior, com um determinado número de créditos em certas disciplinas,
se candidate a um mestrado em ensino e saem mestres… Da mula russa,
acrescentaria… Acredito que as pessoas façam o seu melhor, mas acontece haver
gente com cursos ligados à Higiene e segurança no trabalho a fazerem mestrados
em Geografia, por exemplo, sem perceber nada de alguns conteúdos que têm de
ministrar no 11º ou no 12º ano. Gente que escreve deploravelmente e os
orientadores universitários pedem aos orientadores da escola que os ponham a
escrever! Eu… Nem sei o que diga quando confrontada com estas realidades, que
me vão fazendo chegar… Ou melhor… Penso no desperdício que se está a fazer e no
bom trabalho que foi deitado pelo ralo. Não se forjam professores à pressa e
sem qualidade, mas é o que está a acontecer. No tempo do excesso, exigia-se
tudo e mais o que houvesse, no tempo das vacas magras, a qualidade dos
profissionais não importa. O que interessa é manter a escola pública a
funcionar para os pais depositarem as crianças e seguirem para o trabalho. Tudo
o resto se esboroa na imbecilidade dos corredores do poder, esses senhores tantas
vezes irresponsáveis, que não conhecem ou fingem desconhecer a realidade.
Mais do que
resolver bem os problemas que surgem, interessa continuar a fazer o mesmo com
menos dinheiro, a qualidade do ensino, se diminuir, não vem mal ao mundo, siga
a banda e as ideias peregrinas dos maestros!
Este ano,
com a implementação tão desejada do digital, decidiram facultar uma
prova-ensaio, para ver a aplicabilidade da mesma. Suspeito que não passou de
manobra de diversão, apesar da aparente preocupação… Ou seja, o plano está em
marcha, as provas são para serem realizadas, fica bem para a opinião pública,
dar a entender que se está a acautelar problemas, mas… Quer estes existam quer
não, a decisão já está há muito tomada! Nem falo da fuga de informação sobre a
prova nas redes sociais nem do facto de não terem sido realizadas no mesmo dia
e à mesma hora para todas as turmas, nem sequer do facto de termos vinte e cinco
alunos numa sala, dois a dois, com toda a facilidade para espreitar o
computador do vizinho… Quem quer saber? É só uma prova-ensaio, mas ainda há
quem entenda poder usá-la para avaliação… O nome ensaio deveria dizer tudo…
Desvalorizando
tudo o que atrás foi mencionado, por se tratar de um mero ensaio, vamos ao
cerne da questão: apliquei a bendita prova a três turmas. Numa delas, só seis
alunos conseguiram entregar; na outra, três não conseguiram entregar. Note-se
que todos tinham tempo de fazer a prova, se a Internet funcionasse sem falhas…
Acontece que não… Só numa das turmas, os alunos entregaram todos, mas ainda
assim, as condições de igualdade não foram garantidas, porque nem todos
iniciaram ao mesmo tempo, já que a Internet não o permitiu. Só uma turma de
cada vez estava a realizar a prova, agora, imaginemos o que seria com todos os
alunos de nono ano a resolver em simultâneo. Depreendo que consigam imaginar o
problema… Pois bem, pelo que percebi, a minha escola não foi caso único…
Eis o meu espanto quando leio que o
senhor ministro diz que houve alguns constrangimentos, mas que foram residuais
e que as escolas resolveram! Não brinquemos com coisas sérias, senhor ministro!
As soluções encontradas pelas escolas não poderão ser aplicadas no exame! Até à
partilha de Internet, a partir de telemóveis se recorreu para se testar! O que
deveria acontecer, no final do ano, caso os senhores não permitam que as
escolas resolvam os problemas de alicerces (Internet funcional em todas as
salas, sem quebras de maior), porque a casa não se começa pelo telhado, e se houver
estes problemas “residuais” de uns alunos entrarem no primeiro minuto e outros
passados apenas vinte, os pais deveriam responsabilizar e interpor um processo
judicial ao MECI, por incapacidade de garantir a igualdade de circunstâncias
para todos os alunos. Numa situação de exame, em que eles já estão,
naturalmente, sob pressão, não precisam de fatores externos que os condicionem!
Quando penso que já vi de tudo, o MECI continua a surpreender!
No entanto,
não chega este desvario… Os senhores ainda querem professores voluntários (o
mesmo que dizer dispostos a trabalhar de graça, numa altura em que tratam das
suas próprias avaliações) para a correção do item de resposta extensa! Para
quê? Não queriam o ensaio? Está ensaiado e saiu uma valente porcaria! Deixem
para lá as correções, porque ninguém quer saber! O que faziam bem era pensar em
resolver verdadeiramente a questão e ou reforçam a Internet, porque a verba que
chegou não foi suficiente ou voltem ao papelinho que dizem que é como o algodão:
não engana!
Nina M.
A
crónica deste fim de semana seria sobre outra coisa, mas fui tristemente
surpreendida pela notícia que sabia que haveria de chegar um dia…
A nação
portista vê, hoje, sábado, dia 15 de fevereiro, aquele que foi o seu presidente,
durante 42 anos, partir. É um dia triste. Seguir-se-ão as exéquias e a
despedida final.
Jorge
Nuno Pinto da Costa, o Presidente dos presidentes, marcou a Instituição Futebol
Clube do Porto, marcou sucessivas gerações de portistas, marcou uma cidade,
marcou o país e a história do futebol português no panorama internacional (o
que muitos não lhe perdoam).
Indomável
como a cidade que o viu nascer, o legado que nos deixa será, talvez,
irrepetível, mas como o próprio presidente gostava de dizer: “ninguém diga
impossível”. Pinto da Costa é um homem de paixões e foi a paixão pelo Futebol
Clube do Porto, que começou a acompanhar no estádio, por influência de um tio, às
escondidas da mãe, que norteou a sua vida para o bem e para o mal.
Homem
polémico, irónico, combativo ao centralismo numa época em que era imperioso
fazê-lo (e em muitas coisas continua a sê-lo, nomeadamente, na cultura), nunca
deixou nada por dizer. Acertou muitas vezes. Errou algumas. No legado que deixa
aos portistas, o saldo é positivo, apesar da situação atual em que o clube se
encontra. Se há princípio que Pinto da Costa deixa ao clube é o de nunca virar
a cara à luta. Nunca desistir, porque as árvores morrem de pé. Acredito ter
sido esse um dos motivos pelos quais decidiu recandidatar-se. Um erro de cálculo
que lamento profundamente. Gostava que tivesse saído de outra forma, mas Pinto
da Costa decidiu sair como viveu. Emocionei-me, na noite das eleições, apesar
de entender que os resultados eram aqueles que melhor serviam os interesses do
Futebol Clube do Porto, naquela altura, mas creio que todos os sócios e
portistas sentiram alguma fratura na alma. Não era a despedida que queriam, mas
foi a que o presidente escolheu. Talvez, por isso mesmo, sob o peso da derrota
por número expressivo, o seu nome foi entoado no estádio, foi entoado enquanto se
dirigia para o carro, visivelmente emocionado. O momento mais triste para
todos. A partir de então, ainda agora, o universo azul não curou as feridas.
Sirva a partida do maior símbolo do clube para a unificação da nação portista,
para devolver as alegrias aos adeptos e para honrar o legado que nos deixa.
O
futebol é o só futebol, nada mais do que isso, mas apesar da sua
insignificância nas coisas realmente sérias da vida, é capaz de proporcionar as
maiores alegrias e as maiores tristezas. Com Pinto da Costa, os portistas
provaram ambas, mas foram maiores as alegrias do que as tristezas. Para muitos,
quase o único presidente que conheceram. Tomou conta do clube em 1982 e em 1985
(eu tinha dez anos) ganhou o seu primeiro título de campeão nacional, equipa
liderada por José Maria Pedroto. Dois anos mais tarde, o Futebol Clube do Porto
venceria a Taça dos Campeões Europeus, a Taça Intercontinental e a Supertaça
Europeia. Vi as duas finais: o calcanhar mágico de Madjer e o golo da arma
secreta: Juary, na primeira, e os golos de Fernando Gomes (o bibota) e, novamente,
Madjer, na segunda. Com Pinto da Costa, o Futebol Clube do Porto viria a
repetir a façanha, em 2004, sob o comando de Mourinho e, já em 2003, também
Mourinho tinha vencido a Taça UEFA. Ganharia, ainda a Taça Intercontinental,
sob a liderança técnica de Victor Fernández. O atual presidente, André
villas-Boas, viria a vencer, enquanto treinador, a Liga Europa, em 2011. As
conquistas internacionais do Futebol Clube do Porto, o clube português mais
titulado internacionalmente, que tanto orgulha os portistas, foi conquistado
durante a liderança do presidente que, hoje, decidiu descansar. Houve títulos
nacionais, muitos! Muita alegria e muita euforia.
Sou grata a
Pinto da Costa por todas as alegrias, especialmente, por ter visto o FCP
agigantar-se nas competições internacionais e a vencê-las. Pinto da Costa,
goste-se ou não, nasceu com uma capacidade de liderança invulgar e uma forma
única de olhar para as questões. Em Tóquio, debaixo de neve, com o campo em
condições dificílimas, Pinto da Costa quis jogar e as suas palavras para o
árbitro foram decisivas: “o senhor tem a oportunidade de deixar o seu nome
ligado a uma Taça Intercontinental. Caso se revele impossível, pode sempre
cancelar o jogo por falta de condições ou pode decidir adiar sem sequer tentar.”
O resto da história escreveram-na os jogadores, sob o comando técnico de Ivic.
Estas alegrias são inesquecíveis para um adepto e,
mesmo hoje, o coração sorri quando as pensa. Por tudo isto, Pinto da Costa
ganhou o carinho e o respeito dos adeptos. Por tudo isto é a figura maior do
clube. Por tudo isto sempre será recordado com respeito e saudade. Por tudo
isto lamentamos a sua partida e a sua despedida. Por tudo isto, o Dragão fica
mais pobre sem a sua presença assídua.
Por tudo isto será inesquecível, ainda que também tenha errado,
sobretudo, no último ano, mas como não esquecer e perdoar os deslizes de quem já
deu tanto, de quem deu tudo de si?!
Guardo a imagem de um homem com a lucidez desarmante
de olhar a morte nos olhos e de a enfrentar sem medo nem lamento, de olhar para
trás e de ver uma vida cheia, com acertos e erros, como a de qualquer ser
humano, mas que afirma, sem titubear, a sua satisfação de dever cumprido, com a
tranquilidade de quem está preparado para partir quando a hora chegar.
Pinto da Costa era crente, portanto, Deus lhe dê o
eterno descanso. Por cá, não haverá um portista que não o lembre, não haverá um
portista que deixe esquecer o seu legado. Ao clube, associados e adeptos compete
honrar o legado e a união que faz a força.
Muito obrigada, senhor Presidente! Até sempre.
P.S. Quem estiver a pensar em prestar a última
homenagem, não se esqueça dos cachecóis e camisolas azuis brancas. Pedido do
presidente.
Nina M.
O Homem parece não querer curar a
insanidade do mundo. À medida que nos adentramos na maturidade, ficamos com a
sensação de que a realidade piora a olhos vistos, mas para usar uma expressão
da moda, talvez não passe de um erro de perceção.
Guerras
sempre existiram. O século XX foi sangrento e o primeiro quarto deste século
não está a ser melhor… No entanto, o cenário não é propriamente novo: a sede de
poder, a luta pelo controlo e pela hegemonia económica continua a mesma e
alguns dos atores também. Os donos disto
tudo não prestam e nunca prestaram e continuam a mexer as suas peças no
tabuleiro de xadrez, para fazer o seu xeque-mate.
A luta do
Homem começa a ser a de dotar a sua vida de sentido e de propósito num mundo
esquizofrénico. O problema é que a preservação da sanidade parece exigir o
afastamento da mundanidade e a vivência de um mundo interior muito próprio. No
entanto, não se trava a batalha sem perdas, pois não somos sozinhos, não
subsistimos sozinhos, somos seres gregários e a nossa preservação depende da
preservação da comunidade. Começa a ser verdadeiramente difícil olhar para os
corredores do poder neste momento. O conflito israelo-palestiniano que parece
não ter fim; a guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia; a luta pela
hegemonia económica entre a China e os Estados Unidos da América; a vitória de
Trump que deveria envergonhar todos os estadunidenses, uma vez que o país gosta
de tecer loas à sua democracia. Eu continuo sem entender como um povo é capaz
de eleger uma triste figura que admitiu ter fugido aos impostos, prejudicando
todos os seus concidadãos e, sobretudo, ter incentivado um ataque ao Capitólio
em que, para além de dano patrimonial, houve morte de pessoas. Não entendo como
um país democrático, que revela imenso orgulho na sua democracia e na sua
liberdade, possa permitir que um indivíduo, promotor de uma rebelião e assalto
à casa da democracia, possa voltar a candidatar-se. Espanta-me que o sistema
judicial o permita e espanta-me que um partido, para ganhar eleições, o escolha
e o apoie. Não me espanta que alguns, muitos líderes deste mundo se
predisponham a baixar-lhe as calças e a mostrar-lhe o rabinho. Esse loiro
imbecil já queria anexar o Canadá e a Gronelândia e transformar Gaza numa
espécie de Riviera americana com o apoio de outro troglodita, o Netanyahu! E o
que pretendem fazer aos palestinianos? Acaso o genocídio levado a cabo não chega?
A destruição massiva não é, por si só, castigo suficiente? A expansão sucessiva
dos colonatos que mais não é do apropriação de terra palestiniana continuará
até à expulsão total? O líder de um povo que repete o que outros fizeram com
ele, no século XXI, não é digno de liderar ninguém.
Estas ideias
que nos parecem absurdas e que não são para serem levadas a sério, vindas de
quem vem, devem deixar-nos alerta, porque um louco com poder é capaz de tudo e
não faltam exemplos históricos a comprová-lo.
A diferença entre Trump, Putin,
Netanyahu e Xi Jinping é nula! O valor maior é o dinheiro e o poder. Valores
como humanismo, justiça, empatia, proteção dos mais frágeis passam-lhes ao lado.
Não olham a meios para atingirem os seus fins. Se alguns livros terão lido, um
deles terá sido, por certo, O Príncipe, de Maquiavel. Em caso de conluio
entre Trump e Netanyahu para ocupação de alguns territórios de Gaza, se tal
vier a acontecer, o mundo estará perante uma situação maior de hipocrisia
inqualificável e nojenta. Espero, sinceramente, que o resto do mundo e,
principalmente, a Europa não fique de braços cruzados, impávida e serena. Para
além de que tal comportamento, seria uma espécie de carta branca para a China
poder invadir Taiwan e um respaldo moral para a Rússia!
Eu sei que os estadunidenses só se
preocupam com a economia, uma sociedade onde vigora um capitalismo selvagem,
onde a ideia de sucesso se faz pela ostentação dos bens materiais que se
possui, onde reina a tese da meritocracia sem atender à equidade, fazendo com
que a população acredite que com muito trabalho todos podem melhorar a sua
vida, mas infelizmente não é assim. Há outros fatores e circunstâncias decisivos,
desde logo a sorte ou o azar ditado pelo meio onde se nasce. Trump nasceu com o
rabo virado para a lua. Já era muito rico, antes de se tornar, muito, muito
rico. É um privilegiado arrogante, que se afasta da elite intelectual, mais
pobre do que ele, é certo, mas ao pé da qual não vale um chavo, conseguindo a
simpatia de uma classe média e trabalhadora, por vezes ressentida com as
dificuldades da vida e com as elites que deveriam garantir maior equidade, mas
que falham no propósito. As elites têm, por isso mesmo, um trabalho reflexivo a
fazer. Trump chega ao poder através da divisão e da polarização da sociedade,
com a promessa de uma economia forte nem que isso implique falta de ética nas
relações com os outros países. Eu desejo que o partido democrata se possa reencontrar
rapidamente para fazer uma oposição séria e contundente a este lunático que aterrou,
mais uma vez, na cadeira do poder.
Quanto aos europeus, a verdade é que
não podem continuar a colocar o seu destino em mãos alheias e só uma Europa
unida e fraterna pode ter condições para se bater de igual para igual com
outras potências. A Europa de valores vincados, na única em que me reconheço:
democrática, livre, culta, tolerante, respeitadora, mas que se faz respeitar,
opositora a todo e qualquer regime autocrático, mais justa e mais equitativa na
distribuição da riqueza que produz e promotora de paz.
Espero que soprem ventos favoráveis
para os que sofrem os terrores deste tempo e quanto a mim, por vezes,
apetece-me a imperturbabilidade dos jogadores de xadrez de Ricardo Reis, a ver
se o consigo…
Nina M.
Quem me conhece razoavelmente sabe o
meu gosto futebolístico, que nunca escondi nem escondo. Parafraseando a minha
tão querida amiga “Dra. Isabel”, como carinhosamente a tratava desde os tempos
de caloira, “herdei o bom gosto do senhor meu pai” e tal como ela, que ia lembrando
o pai que já tinha partido para lugar melhor, dos triunfos dos dragões, chegou
o momento, querida Isabel, de te dizer que atravessamos o deserto, mas que
estou esperançosa no futuro. Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas estou
certa de que o nosso FCP continuará a dar-nos alegrias, apesar do momento
difícil que vivemos. Se há coisa que caracteriza o ADN do clube é nunca desistir
das suas ambições.
Parece que às vezes o meu excelente
gosto pelo clube, aliás, bem herdado de família: pai, mãe e irmãos e, agora,
filhos e sobrinhos para lhe dar continuidade, vai desgostando algumas pessoas,
mas isso… Paciência… Não sou responsável por expetativas alheias.
Esta semana aconteceu algo que me
fez rir, mas também refletir a propósito do ocorrido. Comentei a publicação de
um colega, a propósito da vitória da seleção portuguesa de andebol contra a
Alemanha, que mostrava o último golo marcado por Portugal e que garantiu a
vitória e o apuramento. A par das imagens, havia uma pergunta: “Como é que se
descreve um sentimento destes?” Oh! Nada mais fácil para mim! A primeira coisa
que me ocorreu e escrevi no comentário, dirigido ao meu colega, que,
casualmente, tem o mesmo bom gosto futebolístico, duplamente azulado, pois
também o clube da sua terra escolheu esta bela cor. Sem hesitar, respondi que descrevia
muito facilmente: Kelvin, minuto 92!
Obviamente, não sendo ingénua, sabia
dos riscos, mas às vezes, talvez seja um bocadinho Kamikaze… Não faltou muito
tempo para alguém considerar inapropriado o exemplo, pois claro, e replico as
palavras do autor: “comparar Portugal ao Porto, não só é despropositado como é
muito baixo. Mais respeito pela Seleção!” Lá tive de explicar ao senhor que eu
não comparava o FCP à Seleção, mas o sentimento perante uma vitória difícil e
importante ao cair do pano! E que poderia ainda citar como exemplo a Liga dos
Campeões, conquistada em 87, depois de uma reviravolta no jogo, com o magnífico
calcanhar de Madjer, que imortalizou para sempre esse jogo. Portanto, a alegria
sentida pelos jogadores da seleção portuguesa de andebol deve ter sido
semelhante àquela que eu senti nos momentos referidos. Era disso que falava a
publicação, como descrever esse sentimento. Obviamente, não adiantou de nada,
continuei a ser acusada de clubite para justificar o meu sentimento em relação
à Seleção. O senhor não percebeu nada (e não fui eu que não me fiz entender).
Nem sequer estava em causa o meu sentimento pela seleção e a sua justificação, mas
apenas a capacidade de compreender muito bem os sentimentos daquela equipa,
naquele momento, por comparação a vivências e alegrias semelhantes ou até
maiores, porque o minuto 92 do Kelvin valeu um campeonato, um troféu, ao
contrário do jogo da Seleção. Ri-me bastante com o sucedido. Nunca me irrito
neste casos, porque bem analisado, a clubite e a mágoa eram do senhor. Ele é
que interpretou como uma comparação entre o clube e a seleção e, depois, veio a
mágoa, porque o meu clube, referenciado através de exemplos, feriu de morte, ao
ponto de deixar de joelhos o timoneiro do clube do seu coração. Na verdade,
acusou-me daquilo de que ele próprio padece e mostrou a sua incapacidade para
compreender o que eu, cristalinamente, escrevi: a alegria dos jogadores
portugueses terá sido igual à que eu mesma senti no final daquele jogo,
concretamente, no minuto 92. Foi isto o que eu disse. Foi isto que o senhor não
percebeu ou não quis perceber.
No entanto, a partir daqui, pude elaborar
outros raciocínios… As pessoas tendem a querer moralizar as emoções e os
sentimentos alheios. Note-se que ao acusar-me de baixeza por comparar o Porto à
Seleção (interpretação errada da sua parte) e de me sugerir mais respeito pela
mesma, é o mesmo que me dizer que, obrigatoriamente, eu tenho de valorizar mais
a seleção do que o FCP! Com que direito e por que razão me recrimina por não
ter a sua visão de mundo? Isto é o mesmo que dizer que sou obrigada a gostar
mais dos escritos de Saramago do que dos de Victor Hugo ou Dostoiévski, porque
o primeiro é português e os outros, não! Homessa! Não haveria de faltar mais nada!
Vamos ver se a gente se entende… Podemos educar e exercitar a
consciência e a racionalidade, podemos educar comportamentos, mas os
sentimentos e emoções, esses têm vida própria e são rebeldes. Podemos falar em
maus sentimentos: ciúme, inveja, ódio, frustração, entre outros… Sabemos que
são prejudiciais e, nesse caso, podemos fazer um trabalho de racionalização e
de consciência para que esses sentimentos não conduzam a efeitos destrutivos.
No entanto, apesar do trabalho que possamos fazer sobre eles, eles não desaparecem
nem deixam de existir por decreto. Não adianta tentar moralizar o sentimento da
inveja. Ele não se vai embora. Devemos é saber lidar com ele. Reconhecer que é
um mau sentimento, que ele reflete o fracasso do próprio e fazer da fraqueza
força. Poderemos dominar os nossos comportamentos se o caso se justificar, mas
nunca os sentimentos e se os mascararmos, ninguém tenha ilusões sobre isso,
estamos a agir de má-fé para connosco mesmos e a enganarmo-nos a nós mesmos.
Assim, o indivíduo que se achou no
direito de me fazer um reparo moral não o fez por paixão à seleção de andebol,
mas antes por paixão ao seu clube (que eu compreendo e, por isso, relevo), mas
não lhe concedo o direito de me dizer como eu tenho ou devo sentir, ainda para
mais numa questão que não traz qualquer prejuízo a quem quer que seja!
Para ser mais cristalina, para mim,
no desporto, a minha paixão é tão somente o FCP! Gosto muito do Paços de
Ferreira e também da Seleção e desejo sempre que ganhem, mas não me façam
escolher, porque ao contrário de muitos, não tenho quaisquer pruridos morais em
relação a isso! Vibro muito mais com as grandes conquistas do FCP do que com as
da Seleção! E nem se deem ao trabalho de me dizerem o que quer que seja. É uma
questão de sentimento e eles não são moralizáveis nem negociáveis. O coração
fica com quem lhe acende a alma. Desportivamente, quem mais me acende a alma é
o FCP. Sempre foi. Sempre será.
Se assim não
fosse, a esse mesmo senhor que me quis puxar as orelhas, poderia dizer-lhe que
alguém que é natural de outro distrito do Norte do país, é imoral ser
benfiquista, que deveria ter escolhido o clube da sua região. Certamente, não
estará de acordo e talvez, se tiver a capacidade de ser verdadeiro consigo
mesmo, talvez conclua que gosta mais do seu clube do que da Seleção. Também
poderá não ser assim e eu aceito com naturalidade. Não aceito é que me queira
impor regras ao meu sentir ou tecer juízos fundamentados numa moral bacoca! Não
haveria de faltar mais nada!
Concluindo: compreendo muitíssimo
bem a alegria dos jogadores de andebol. Felizmente, já a senti várias vezes
enquanto adepta, das quais se destacam o minuto 92, final de 1987, final de
2003 e de 2004. De intensidade menor, mas ainda assim bastante alegria, todas
as subidas de divisão do Paços e o euro de 2016.
Gosto de ser correta, mas gosto
pouco do politicamente correto.
Nina M.
P.S. Isto
não é sobre futebol.